Alguns carros em teste nas ruas aparecem com camuflagem automotiva. Imagem por LSDSL sob licença CC BY-SA 3.0 Unported (imagem remixada do original)
Indústria automotiva faz uso de pintura especial para “disfarçar” protótipos em teste.
Aficionados do mundo automotivo já se depararam com noticiários que afirmavam terem “flagrado” um veículo novo em testes em alguma estrada ou avenida. Quando a reportagem é acompanhada de um fotografia, esta pode mostrar um carro coberto por uma “capa”, estampada com formas e cores que escondem o formato do carro. Nestes casos, existe a possibilidade do redator da matéria nem conseguir distinguir qual veículo se trata – justamente, este é o propósito dessa pintura curiosa.
Por qual motivo carros novos usam camuflagem automotiva?
A pintura camuflada surgiu como opção para as montadoras esconderem o design de seus lançamentos, mantendo a possibilidade de testá-los na via pública ou transportá-los entre oficinas mais facilmente, sem a necessidade de utilizar caminhões, por exemplo. Em certos casos, esse disfarce vai bem além de adicionar uma textura ao veículo: partes externas do veículo podem ser substituídas por formas mais genéricas ou preenchidas com uma “massa”, aparentando uma forma completamente diferente para os olhares externos. Existem situações que fabricantes optaram por testar as partes mecânicas de um protótipo colocando-as em um modelo já existente, dado que tinham dimensões similares – tudo isso para manter o visual do veículo em segredo.
Essa técnica é recorrente, também, no automobilismo: durante a temporada 2015 da Fórmula 1, a equipe Red Bull Racing escondeu os detalhes da aerodinâmica do RB11 durante os testes da pré-temporada mediante o uso desta camuflagem automotiva. A scuderia dos pilotos Daniel Ricciardo e Daniil Kvyat terminou na quarta colocação no campeonato mundial de construtores.
O efeito reverso
Veículos com essa decoração podem passar despercebidos pela visão periférica de motoristas focados apenas em dirigir, dado que o carro em testes se confundiria com o movimento do resto da via que está trafegando. Por outro lado, a técnica também sofre do chamado “Efeito Streisand“: quanto mais esforço é feito para esconder algo, mais visível ele se torna. É bastante provável que a técnica de camuflagem atraia mais olhares ao protótipo do que o veículo sem nenhuma proteção – afinal de contas, se não estivesse coberta por esta textura curiosa, muitos entenderiam que é apenas um modelo que não conhecem.
No entanto, o propósito da técnica é garantir que, mesmo com a agilidade que as informações e imagens percorrem nas redes sociais, o design externo do veículo não seja exposto antes do período desejado. Grande parte da publicidade que gira em torno de um carro novo é a revelação – e um “flagra” destes pode prejudicar essa expectativa.
A inspiração para o processo
Essa prática foi inspirada pelas camuflagens disruptivas desenvolvidas durante a Primeira Guerra Mundial, quando navios de combate e destróieres do Reino Unido eram pintados com uma camuflagem preta-e-branca, com o objetivo de esconder as formas e curvas destes veículos. Até uma determinada distância, características como a velocidade, a direção de deslocamento e o tipo de embarcação eram difíceis de distinguir, impedindo que adversários pudessem observar qual era o local ideal para efetuar um disparo. A ideia foi apresentada ao governo britânico pelo zoólogo John Graham Kerr, após observar que animais como zebras e girafas tinham padrões de pintura que não serviam para se esconder de predadores, mas para confundi-los.
Então, quando ver um carro andando pela rua com esta pintura, esteja certo de que se trata de um automóvel em testes. Caso seja seguro focar sua atenção nele, tente decifrar qual é a montadora – isto é, se seus olhos conseguirem encontrá-los entre à multidão, antes de tudo.
Redação pecahoje.com.br